Ano Novo, Medo Velho
- Miguel Aleixo
- 29 de dez. de 2023
- 3 min de leitura
O medo pauta o nosso raciocínio e o seu exagero bloqueia-nos. O objetivo para 2024 deve passar por adquirir mais autocontrolo e um olhar mais esclarecido, para uma vida mais pacífica e em comunhão com o outro.

A forma como contamos o tempo, tende, numa ótica de comportamento de grupo com uma pitada de ancestralidade, de nos fazer refletir em determinados momentos. Há datas que nos marcam e nelas relembramos o passado ou projetamos o futuro, enquanto tentamos equilibrar o presente. Algumas datas são singulares, correspondentes ao nosso trilho de vida único e irrepetível. Outras são datas globais, onde a maioria de nós se reúne, e de um modo mais ou menos crente ou religioso, vai cumprindo os seus rituais.
O final de cada ano marca um ponto dessa viragem. Ajuda-nos a perceber o tempo e impulsiona a perspetiva de mudança. Como um treinador em pré-época, procuramos reunir os melhores hábitos e definir a melhor estratégia para o ano que vai mudar as nossas vidas. Infelizmente, tende a ser sempre o próximo. - O próximo é que é!
O Ser humano perspetiva em demasia e esquece-se que é no presente que vive. É no presente que deve atuar, sentir e viver. Sabemos disso, mas numa sociedade cada vez mais apressada e dominada pela ansiedade, a antecipação dos cenários é algo cada vez mais automático e a ausência de tal fardo, parece, por vezes, ser um fardo ainda maior.
Não precisamos de uma data para mudar e trilhar novos caminhos, ao delegarmos à passagem do ano o destino do nosso futuro, estamos, no fundo, a escrever a lápis num papel delicado, fácil de ser rasgado. As palavras brilham com o brilho do fogo pelo ar, mas, no despertador tardio de dia 1 de janeiro, afugentam-se em busca de um brilho que só volta a aparecer no ano seguinte. O tempo, sozinho, é muitas vezes insuficiente como mecanismo de mudança. O tempo sempre passa e o medo do presente faz-nos aguardar por um futuro melhor, aquele que temos dificuldade em construir.
As nossas ultimas vivências enquanto indivíduos singulares e sociedade globalizada, ensinaram-nos que a simplicidade pode trazer harmonia. Que o stress do dia a dia não compensa o segundo de felicidade na compra de objetos dos quais não precisamos; Que o convívio em volta de uma lareira pode ser mais aconchegante que a elegância do restaurante da avenida; Que o abraço sentido é mais importante que o plástico oferecido. Sabemos isso tudo... mas as montras iluminadas, as noticias alarmantes e os valores das faturas mensais assustam-nos, remetem-nos para um medo que nos causa ansiedade e intolerância. Estamos a ser a sociedade que tudo compra para oferecer às pessoas que pouco tolera, apenas para ser aceite. Uma espécie de jogo de convivência social. Temos medo de falhar! Temos medo que alguém chegue e nos roube o lugar, o protagonismo, as conquistas... vivemos no medo de não sermos suficientemente bons. Uma espécie de síndrome do impostor. Esses sentimentos castram-nos, bloqueiam-nos, deprimem-nos e deixam-nos maldosos para com o outro. Relevam o pior de nós! Este medo está tão transversal, que um dia nos acompanhará do berço até à campa.
Em 2024, tenta por o medo um pouco de lado. Procurar parar, ouvir e partilhar. Corre ao teu ritmo e cria os teus próprios objetivos e propósitos. Desliga o telemóvel e abraça a natureza. Valoriza a relação em vez do plástico. Procura abrandar o teu coração, pacificar a tua alma e ouvir o som que te sossega, nem que seja por breves instantes.
Não há receitas mágicas, mas ganhar consciência da forma como as nossas ações nos afetam, é o primeiro passo para promover uma mudança. Não estás só, um Psicólogo pode ajudar!
Em 2024, liberta-te! Resignifica o teu medo!
Bom ano!
Miguel Aleixo
Psicólogo Clínico e da Saúde
psicaleixo
Комментарии