Nunca voltes às masmorras
- Miguel Aleixo
- 31 de ago. de 2021
- 2 min de leitura
Atualizado: 25 de set. de 2023
Um ensaio sobre como as nossas fragilidades podem sempre voltar para nos assombrar.

A regra é simples: "Faças o que fizeres, nunca voltes às masmorras!"
O António fumou durante anos até decidir finalmente pedir ajuda e iniciar um processo de cessação do vício. O programa foi um sucesso, e num intervalo de tempo invejável abandonou o cigarro. Estava feliz, estava confiante! Sabia que aquele “Adeus” tinha sido para sempre. O tempo passou sem aquele pesado inimigo na mão. O sorriso do orgulho deu lugar à normalidade de quem simplesmente ultrapassa um episódio qualquer. Estava no passado, era somente uma história.
Um dia, convicto das suas capacidades e senso de superação, embebido num ambiente social, junto de amigos que festejavam um aniversário, decidiu recompensar-se com um cigarro.
- "Estou resolvido. Só um não fará diferença… em memória dos velhos tempos" – Pensou o António, plenamente convencido das suas palavras.
No momento em que aquele cigarro tocou a sua boca, sentiu um prazer inconfundível. Recordou todos os momentos que passou com aquele pequeno vagabundo, das épocas de êxtase aos maiores desgostos. À medida que ia fumando, foi colocando em dúvida as suas novas crenças, os seus métodos de coping e tudo aquilo que estava a viver. Já perto da última passa do cigarro e do último bafo de fumo, viu crescer em si uma sensação de escassez. Não queria que ele fosse embora, mas nenhum cigarro fica acesso muito tempo. Quando acabou, queria pedir mais... mas teve vergonha, e o seu orgulho não o permitiu.
No regresso a casa estava com uma estranha sensação no peito. Ele queria fumar novamente! Sentir novamente o odor e cada pequeno gesto que compunha aquele ritual, que em tempos repetia junto à janela, enquanto refletia ao luar. Mas em cada traço romântico que desenhava, forçava-se a lembrar da saúde que perdeu e de todo o esforço que aplicou para abandonar aquele vício.
O António está de ressaca desde então…
No fundo, esta história nada tem a ver com cigarros e seus fumadores. São várias as vezes que achamos que temos o controlo suficiente para reaver contactos ou experiência antigas. Todas as técnicas que te podem ajudar a cortar e a romper padrões profundamente vincados em ti, promovendo o teu desenvolvimento pessoal, podem vir adjacentes com uma debilidade.
Experiências antigas, fortemente vincadas na nossa história, possuem conexões emocionais muito fortes. Cabe-te a ti não reforçar comportamentos que deixaste para trás. Isso pode despertar estados emocionais que tanto lutaste por alterar. Reacende-los, pode ser o teu bilhete de regresso ao passado, com toda a nostalgia e perigos que isso possa trazer.
Segue firme e convicto! O passado sempre pode voltar para nos assombrar, mas apenas se nós o permitirmos! Não caminhes só!
Eu posso ajudar – psic_aleixo@hotmail.com
Um Abraço!
Dr. Miguel Aleixo
Psicólogo Clínico e da Saúde
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